sexta-feira, janeiro 12, 2007

A traição declarada

Bufão aos 60 anos
por CECAC [*]

"Se você conhecer uma pessoa idosa esquerdista é porque está com problema. Se acontecer de conhecer alguém muito novo de direita é porque também está com problema".
"Eu agora sou amigo do Delfim Netto (...) Porque eu acho que é a evolução da espécie humana (...)".
"O Brasil tem uma história diferente de outros países. Mesmo a ditadura no Brasil não foi violenta como foi no Chile e em outros países".
Declarações do sr. Luís Inácio da Silva (Lula)

As recentes declarações de Lula – no evento em que foi homenageado como "Brasileiro do ano" da revista Isto É e sobre a ditadura militar – são uma expressão do posicionamento ideológico/político/econômico do governo Lula/PT em defesa dos interesses de classe do imperialismo e das classes dominantes brasileiras a ele associadas.

Posicionamento a serviço da reestruturação da formação econômico-social que vai colocando como setor "dinâmico" da economia brasileira a produção para a exportação de commodities e produtos manufaturados, na sua grande maioria montagem, e controlados pelo capital estrangeiro [1] , e também estabelecendo uma máquina de valorização do grande capital, na esfera financeira, especulativa. Por isso a euforia, o clima descontraído, as palmas e gargalhadas durante o discurso de Lula no evento da Isto É para centenas de empresários, pesos-pesados da economia brasileira.

Ao afirmar que a "evolução da espécie humana" caminha para posições de centro, na verdade, Lula expressa essa sua posição que nada tem de centro e é, objetivamente, de direita, de defesa dos interesses do imperialismo e das classes dominantes brasileiras, principalmente das suas frações mais retrógradas, mais subordinadas ao sistema imperialista.

Quanto às declarações de Lula sobre a ditadura militar, se enquadram nesse posicionamento de direita, também na política. É impossível, do ponto de vista do marxismo, não haver um nível de correspondência entre a economia e a política. Ao defender os interesses do grande capital internacional e nacional, Lula, o seu governo, o PT e partidos aliados, vão assumindo posições no campo político de aproximação, de relativizar e "aliviar" a ditadura militar brasileira, período de violenta repressão política, com prisões, tortura e execução de opositores ao regime.

Lula ao implementar uma política econômico-social que aprofunda Collor e FHC, que intensifica a exploração, que gera arrocho salarial, desemprego e o desmonte dos chamados setores sociais do Estado, como saúde e educação públicas, seu posicionamento nas questões democráticas aponta para uma tendência à violência, à repressão contra o povo.

Se hoje não existe uma repressão aberta, evidente, é porque Lula como presidente atua como bombeiro da luta de classes, tentando conter as mobilizações e lutas do povo contra a exploração e a opressão e, assim sendo, atende melhor aos interesses do imperialismo e das classes dominantes brasileiras. Sua origem operária, sua trajetória sindical e a aplicação de forma eleitoreira das políticas assistencialistas receitadas pelo imperialismo, pelo Banco Mundial, como o bolsa-família, o credenciam para esse papel.

Ao abafar, ao tentar (e num certo nível conseguir) contornar a resistência do proletariado e dos explorados, diminui a necessidade de repressão aberta. Desta forma, amortece a luta popular, aposta na desmobilização, abre caminho para o ataque a direitos duramente conquistados pelos trabalhadores. Assim, a posição de Lula sobre o abjeto período da ditadura militar, e suas novas amizades, como Delfim Neto, czar da economia naquele período, não surpreendem.

[1] Gazeta Mercantil, 13/09/06, Grandes empresas concentram 90% das exportações.

[*] Centro Cultural Antônio Carlos Carvalho, no Rio de Janeiro.

O original encontra-se em http://www.cecac.org.br/MATERIAS/Lula_60_cabelos_brancos.htm


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Lula sessentão: o monarca é o Bobo da Corte
por Jorge Almeida
Depois de vencer as eleições atacando verbal e genericamente "as elites", a atividade preferida de Lula da Silva agora é exatamente divertir estas mesmas "elites". É a única conclusão que se pode chegar, diante das suas mais recentes declarações em eventos na presença de grandes empresários do agronegócio, industriais, banqueiros, governadores, políticos históricos da ditadura militar, ex-ministros e socialites.

A platéia gargalhou (literalmente), por exemplo, quando ele disse que posições de esquerda são coisas de menino imaturo e que a "evolução da espécie humana" caminha para posições de centro. Falou isto diante de uma Corte de convidados da revista Istoé. Eram umas 900 pessoas, reunidas num hotel de luxo: banqueiros, empresários, deputados, senadores, socialites, ex-ministros, artistas, esportistas. De grande homenageado da noite, ganhador do prêmio de "Brasileiro do ano", dado exatamente pela revista envolvida com o caso do Dossiê Vedoim, Lula se transformou em Bobo da Corte: a alegria "dazelites".

Elogiou enfaticamente o czar da economia, do arrocho e da concentração de riquezas da ditadura militar: "Eu agora sou amigo do Delfim Netto (...) Porque eu acho que é a evolução da espécie humana, quem é mais de direita vai ficando mais de esquerda, quem é mais de esquerda vai ficando social-democrata e as coisas vão fluindo de acordo com a quantidade de cabelos brancos que você vai tendo e de acordo com a responsabilidade que você tem. Não tem outro jeito, se você conhecer uma pessoa muito idosa esquerdista, é porque ela tem problemas (...). Então, quando a gente está com 60 anos, doutor Ermírio, é a idade do ponto de equilíbrio em que a gente não é nem um nem outro. A gente se transforma no caminho do meio, aquele caminho que precisa ser seguido pela sociedade". Ou seja, além do bufão se dizer de centro e aplicar políticas da direita, deixa claro que este deve ser "o caminho da sociedade".

Lula da Silva estava bem acompanhado dos seus novos amigos: o industrial e banqueiro Antonio Ermírio de Moraes (Votorantin), o banqueiro Lázaro Brandão (Bradesco), o governador de São Paulo Cláudio Lembo (PFL), o prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (PFL), o ex-presidente José Sarney (PMDB), entre tantos outros.

Um bom comediante da Corte sabe interpretar vários personagens. Desta vez, como vimos, Lula da Silva cumpriu o papel de cientista político, com tese de doutorado sobre "o papel dos cabelos brancos na direitização etária irreversível da espécie humana". Em seguida, cumpriu o papel de psicanalista e acrescentou que idosos que continuam com idéias de esquerda são desajustados cheios "de problemas". A Corte, formada pela grande burguesia lotada no Brasil, se divertia, gargalhando pra valer.

Mas no meio do discurso, o histrião da corte do capital, tirou as fantasias de cientista político e psicanalista e vestiu a de capitão do mato. E voltou a culpar indígenas e quilombolas, responsabilizando-os pelos entraves no crescimento econômico do Brasil. Disse que "Até chegar à primeira instância do Poder Judiciário, demora sete anos. Até chegar ao Supremo, 16 anos. Não adianta querer trazer para cá uma fábrica de papel e celulose porque a legislação diz que tal área é dos índios. Aí no dia seguinte tem mais terra para os índios e no dia seguinte tem mais terra para os quilombolas. Ou nós estabelecemos um marco jurídico que resolva isso definitivamente, ou ninguém vai acreditar que os nossos projetos podem dar certo neste país" – declarou o animador da noite.

A alegria foi geral e incontida na platéia. Claro! É a música que embala os ouvidos do grande capital. Sim, porque o que não falta são marcos jurídicos sobre a questão dos territórios indígenas e quilombolas. O que Lula está falando mesmo é em mudar estes marcos. É em contra-reformas, inclusive constitucionais, para tirar direitos de indígenas e quilombolas.

Por outro lado, esta nova declaração agressiva contra indígenas e quilombolas, mostra que a fala de Lula da Silva no mês passado, com o mesmo sentido, não foi por acaso nem um simples erro, falha ou destempero passageiro.

No dia 21 de novembro, falando oficialmente na inauguração de uma usina de biodiesel (Mato Grosso), o truão dos fazendeiros disse que pretendia retirar todos os "entraves que eu tenho com o meio ambiente, todos os entraves com o Ministério Público, todos os entraves com a questão dos quilombolas, com a questão dos índios brasileiros, todos os entraves que a gente tem no Tribunal de Contas" ... para fazer o Brasil "crescer". Neste dia, a platéia era a Corte de produtores de soja, os reis do agronegócio do estado do desmatamento grosso, governado por um outro dos seus novos amigos, Blairo Maggi, ali presente. Na ocasião, o Ministério do Meio Ambiente tentou minimizar as declarações, dizendo que ele estava falando de questões pontuais.

Mas logo depois, numa reunião com os governadores de estado, o bufão, falando sobre o mesmo assunto, disse que era preciso "destravar todos os penduricalhos que atrapalham a agilidade de quem é prefeito, de quem é governador e de quem é presidente". Para Lula da Silva, direitos de quilombolas e indígenas não passam de "penduricalhos".

É neste quadro que se situa uma outra reunião, esta de caráter fechado, da qual o Bobo da Corte participou no dia seguinte ao evento da IstoÉ. Esta foi convocada pela FIESP e pelo IEDI (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo e Instituto para Estudos do Desenvolvimento Industrial), dois pesos pesados da burguesia situada em terras brasílicas.

Estas organizações prepararam uma análise da situação econômica nacional (consensualmente muito preocupante) para apresentar ao dublê de monarca e animador de platéias "dazelites".

Na reunião (dia 12/12) estavam os ex-ministros Delfim Netto, João Sayad e Luiz Carlos Bresser-Pereira, José Cecchin, Sérgio Amaral e Martus Tavares e especialistas em contas públicas, economistas e jornalistas como Everardo Maciel, Raul Velloso e Maria Helena Zoccun, Yoshiaki Nakano, Luis Nacif, Paulo Francini, Ivoncy Iochpe e José Ricardo Roriz Coelho.

Neste caso, não houve só diversão, mas também alguma divisão entre os que "primeiro querem fazer o ajuste para depois crescer" e os "que querem crescer para fazer o ajuste depois". Por ajuste, entenda-se cortar mais um pouco daquilo que o Bobo da Corte chama de "penduricalhos": direitos previdenciários e trabalhistas, sobre o que tanto a Corte como seu animador concordam alegremente que devem ter "novos marcos jurídicos". Delfim Netto, que lá estava, como se sabe é forte defensor não somente dos ajustes e novos marcos, como também do chamado "déficit nominal zero", ou seja, tudo para pagar mais aos banqueiros já.

Durante a premiação da Istoé, as declarações de Lula da Silva sobre a economia foram no sentido da manutenção da política macro-econômica e foi interpretada como sendo de apoio à continuidade de Henrique Meirelles à frente do Banco Central. Aliás, na mesma noite este também ganhou o prêmio de "personalidade econômica do ano".

Outro premiado, como "revelação política do ano", foi o governador eleito da Bahia Jacques Wagner (PT), que, não por acaso, teve, entre seus principais financiadores de campanha, empresas de eucalipto e celulose (Aracruz Celulose e Veracel) e grandes construtoras interessadas na obra faraônica da Transposição do Rio São Francisco.

Finalmente, enquanto a Corte e o seu bufão se divertem e a morte do General Pinochet é festejada no Chile e seu neto é expulso do exército chileno, novos cadetes brasileiros homenageiam o sanguinário ditador brasileiro Garrastazu Médici (sim, o chefe de Delfim Netto). E o PT se alia à oposição de direita para privatizar o IRB [Instituto de Resseguros do Brasil], diminuir o reajuste de salários dos aposentados e tirar "pinduricalhos" direitos dos trabalhadores na nova lei do chamado Super-Simples.

O original encontra-se em http://www.acaopopularsocialista.org.br/artigos/214.htm

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