quarta-feira, setembro 27, 2006

Direita assumida, direita não assumida e esquerda vacilante - VOTEM NULO

AS ELEIÇÕES BRASILEIRAS As eleições presidenciais brasileiras serão no próximo domingo, 1 de Outubro. O candidato da direita assumida é o sr. Alckmin, indivíduo ligado à Opus Dei e apoiado pelo ex-presidente F. H. Cardoso. Não se lhe conhece obra significativa no governo do estado de S. Paulo. A própria mediocridade do personagem mostra as dificuldades da direita pura e dura em encontrar quadros capazes. O candidato da direita não assumida é o sr. Lula, que actualmente faz o papel de presidente mas não exerce o governo real. Este é exercido pelos representantes dos credores do país, que nomearam um gerente inamovível para tomar conta do Banco Central, conduzir a sua política económica e pagar pontualmente o serviço da dívida externa. Nestas eleições o sr. Lula prepara-se para comprar votos com a ameaça da suspensão do programa assistencialista "Fome Zero", que distribui migalhas a 11 milhões de famílias marginalizadas . Trata-se de uma manobra perversa: o mesmo indivíduo que é conivente com a política económica que leva à exclusão social chantageia a massa dos excluídos com a ameaça de suspender a distribuição das migalhas. O sr. Lula é na verdade o candidato preferido dos directores do FMI, que querem manter as coisas sob controle e minimizar riscos de explosões. Resta a terceira candidatura. Heloisa Helena é uma pessoa digna e o seu candidato a vice-presidente, César Benjamin, autor de A opção brasileira, é um homem intelectualmente bem preparado. A respectiva campanha eleitoral, no entanto, adopta um tom tímido e recuado, com laivos moralistas incidindo em questões acessórias como a corrupção (como se fosse possível haver um capitalismo sem corrupção). A campanha de H. Helena perde assim a oportunidade de exercer uma acção pedagógica e esclarecedora junto ao povo brasileiro pois omite-se ou é vacilante frente aos problemas fundamentais — como a necessidade da ruptura com o imperialismo, da Reforma Agrária, de reverter as privatizações selvagens efectuadas nas últimas décadas; de por em causa a dívida externa que escraviza o país, etc. Tais omissões geram entre as massas a ilusão de que os problemas de fundo poderiam vir a ser resolvidos apenas pela via eleitoral, sem mobilização e intervenção directa do povo a fim de alcançar a democracia económica, a democracia social e a democracia política, libertando-se do seu arremedo marquetizado. Verifica-se que no Brasil nenhum partido de esquerda teve a coragem de adoptar a posição do Partido dos Comunistas Mexicanos, o qual nas presidenciais de 2006 se recusou a apoiar qualquer dos dois candidatos da classe dominante (Calderón e Lópes Obrador) e efectuou uma campanha paralela de esclarecimento e mobilização popular.

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