sexta-feira, julho 06, 2007

Laudos trazem indícios de tortura

Perícia realizada pelo IML aponta que ao menos dez dos 19 mortos em operação policial no Rio tinham ferimentos e escoriações

Vítimas receberam 78 tiros no total, 32 deles disparados por trás, o que representa 41,02%; adolescente de 15 anos levou nove disparos
SERGIO TORRESDA SUCURSAL DO RIO

Ferimentos ensangüentados, escoriações e manchas arroxeadas estavam espalhadas pelos corpos de pelo menos dez das 19 vítimas de supostos confrontos entre policiais e traficantes ocorridos no complexo de favelas do Alemão, na zona norte carioca, no dia 27.A informação consta dos laudos cadavéricos produzidos pelo IML (Instituto Médico Legal) e que a Secretaria Estadual de Segurança Pública tem procurado manter em segredo.Para a Comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), as marcas são mais um indício de que, durante a operação, os policiais podem ter espancado e torturado suspeitos, como acusam parentes e moradores do local.O presidente da comissão, João Tancredo, após analisar os laudos, disse que "já se vislumbra" a hipótese de algumas das vítimas terem sido mortas depois de rendidas. "Estou comparando os laudos com o que dizem os moradores. O prudente é verificarmos o que aconteceu com uma perícia independente, mas já se vislumbra a hipótese de execução."Segundo os laudos, 13 das 19 vítimas receberam tiros por trás. Sete foram baleadas nas costas; duas, no pescoço; uma, na cabeça; uma, na panturrilha esquerda; uma, no braço esquerdo; e uma, no punho esquerdo. A perícia não indica a distância percorrida pelas balas antes de atingir o corpo nem os calibres das armas usadas pelos policiais. Mas, em cinco casos, apontam a presença de pólvora nas bordas dos ferimentos de entrada da bala, o que indicaria proximidade entre quem atirou e quem foi baleado.Dos casos de ferimentos externos não causados por armas de fogo e relacionados nos laudos corporais, o que mais chama a atenção é o de David Souza de Lima, 14. No antebraço esquerdo dele, segundo a perícia, constatou-se a existência de "uma extensa ferida irregular". A profundidade do ferimento deixa à mostra os ossos e a musculatura.Lima foi baleado nas costas quatro vezes. Desde o dia da operação, moradores e parentes dizem que o menino foi esfaqueado antes de morrer. O ferimento no braço dele pode ter sido causado por facadas ou outro objeto perfurocortante.A perícia mostra ainda que as 19 vítimas foram mortas com um total de 78 tiros, sendo 32 deles disparados por trás, o que representa 41,02%. O adolescente Pablo Alves da Silva, 15, recebeu nove disparos, sendo quatro nas costas, dois na cabeça, um no pescoço, um no tórax e no braço direito.As vítimas em que havia ferimentos externos, além de Lima, são Bruno Rodrigues Alves, Cléber Mendes, Geraldo Batista Ribeiro, Marcelo Luiz Madeira, Bruno Vianna Alcântara, Uanderson Ferreira, Emerson Goulart, Jairo César Caetano e Rafael Bernardino da Silva.

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